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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

FRITOS NA HORA - A culpa é das estrelas (2014) - Victor Bertão

Posted by Pasteleiro On 13:00 0 comentários


A CULPA É DAS CARÊNCIAS – Por Victor Bertão



Não foram precisos muitos meses após seu lançamento para que A Culpa é das Estrelas se tornasse um dos livros mais populares de seu tempo. Frases de efeito sendo publicadas à níveis exponenciais pelas redes sociais, artes conceituais e centenas de garotas adolescentes narrando seus momentos de choro após a leitura do livro que fez com que John Green em poucos meses fosse considerado pela imprensa americana como uma das personalidades de maior influência entre os jovens do Estados Unidos. Se isso vem a ser algo bom ou não, a discussão é bastante longa e, ao menos aqui, inapropriada.




A adaptação ao cinema, que é produzida pela mesma dupla responsável pelo excelente 500 Dias Com Ela, e dirigida por Josh Boone, cujo trabalho mais notável até então era o fraco Ligados Pelo Amor, certamente é uma adaptação notável e bem feita, e que de forma alguma decepcionou às milhões de adolescentes que, após já chorarem em todas as vezes que assistiram aos dois minutos de trailer, foram ao cinema apenas com a intenção de chorarem ao longo de pouco mais de duas horas, contudo a história narrada apenas evidencia a maneira lamentável com que John Green opta por representar os jovens em suas obras, de modo superficial, sensacionalista, e fazendo uso de todas as artimanhas possíveis para que se extraia lágrimas que ao fim agreguem ao material final um valor maior ao que de fato ele possui.

A adolescência é o período dos extremos, em que tudo vai do céu ao inferno em poucos segundos, da mesma maneira que todo o tempo do mundo ainda assim parece mínimo frente a tudo que se quer viver, e somente tais características já são o bastante para se lembrar o que é ser jovem e o quanto é mágico estar apaixonado enquanto se é adolescente. Foi com base nisso que Stephen Chbosky escreveu o perfeito e memorável as Vantagens de Ser Invisível, com adolescentes comuns, repletos de anseios, dúvidas e medos, contudo uma história que fugiu da maneira vazia e comum por meio da qual se insiste em representar a mente de jovens, e através de um roteiro simples, porém profundo, representou da melhor maneira possível que é a adolescência. Sem jovens bonitos, perfeitos e irreais, sem drama superficial, sem câncer.





Com diálogos interpretados como se seus protagonistas estivessem a encenar uma peça teatral no Ensino Médio, A Culpa é das Estrelas, assim como seu material original, abre mão de expor todos os fascínios da adolescência para se enaltecer o câncer, elevando-o a condição de fator primordial para se conquistar a empatia do público para com uma história de amor completamente não fundamentada.






A garota bonita, contudo que se sente feia e incompleta, e que afirma o tempo todo que está com seus dias contados. A chegada do garoto perfeito que, mesmo que pudesse ter toda e qualquer garota bonita e popular, ainda assim se interessa por aquela que se sente feia e incompleta. Muitas frases de efeito. Closes e mais closes que por vezes chegam a promover a apoteose do príncipe encantado. Um romance com os dias contados. Mais frases de efeito enquanto se extrai todas as lágrimas causadas por todo o vazio sensacionalista promovido por todos os elementos que compõem a narrativa.





Uma boa adaptação de um livro, contudo uma história cujo sucesso apenas expõe a anomalia presente em uma sociedade que já não é mais capaz de enxergar no simples o extraordinário. Pessoas que somente frente a uma narrativa tão vazia, irreal e sensacionalista, são capazes de permitir que venham à tona seus valores e sentimentos que de fato as tornam humanas.

E é lamentável que um autor explore isso como a fórmula para seu sucesso.


Escrito por Victor Bertão

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